CIRTA - Reabilitação Integrada

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Centro Integrado de Reabilitação e Terapias Aquáticas

DÚVIDAS

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ANIMAIS DE LABORATÓRIO


“Doutor, tenho visto bastantes debates sobre o uso de animais nos laboratórios de pesquisa. Há políticos que fazem propaganda contra o uso de animais e dizem que isso é uma crueldade, um mal desnecessário e um desrespeito aos animais. Tenho alguns amigos que são radicalmente contra o uso dos animais, dizendo que eles são maltratados e usados sem motivo, e que isso tem que acabar o mais rápido possível. Como médico veterinário e acima de tudo, presumo, como amante dos animais, o que o senhor acha dessa polêmica?”
Cristiane.
Esse é um tema muito delicado. Em primeiro lugar, obviamente sou um amante dos animais. Desde bem pequeno, sempre me recusei a maltratar qualquer animal que fosse, mesmo um inseto, por mais feio e assustador que me parecesse. Cresci com um profundo sentimento de respeito e amor pelos animais, e acredito piamente que eles têm direito à melhor qualidade de vida possível, e foi exatamente por isso que escolhi cursar medicina veterinária. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Quanto ao uso de animais na pesquisa biológica, ou seja, dentro dos laboratórios, tenho que ser a favor. Isso porque, infelizmente, apesar de haver um esforço muito grande na busca de alternativas para a pesquisa biológica (na Inglaterra, por exemplo, tenta-se ao máximo eliminar o uso de animais), há momentos em uma linha de pesquisa em que o uso de animais ainda é imprescindível. Caso esse tipo de proibição fosse aprovado, o avanço na descoberta e desenvolvimento de novas vacinas e medicações (quimioterápicos para o câncer ou vacinas contra a AIDS, por exemplo) seria imensamente prejudicado. O retardamento nesse tipo de pesquisa poderia custar milhares, talvez milhões de vidas humanas, pois enquanto se estaciona na pesquisa de medicações e vacinas, as doenças avançam impiedosamente.
O grande problema, acredito, está na desinformação dos leigos. E também no isolamento dos pesquisadores, que não se esforçam para divulgarem como e por que os animais usados são tão importantes, e a forma como são tratados nos biotérios (locais onde são criados e mantidos).
Mas, uma excelente solução para aqueles que como você querem realmente formar uma opinião de verdade (e não apenas se colocarem contra, sem entenderem e nem se interessarem em conhecer como as coisas são), é visitar a Fiocruz, considerada um modelo no mundo inteiro, conhecer seus biotérios e ver como os animais são tratados lá.
Recentemente, a Fiocruz convidou os vereadores do Rio de Janeiro para visitarem suas instalações, mas apenas três compareceram, apesar de muito outros terem votado contra o uso e animais na pesquisa científica. Será que esses vereadores que proclamam seu amor aos animais e pedem em discursos acalorados que seu uso na pesquisa seja proibido sabem realmente do que estão falando? Será que têm conhecimento científico e capacidade técnica para decidir sobre essa questão?
Sua opinião, Cristiane, é soberana. Mas é sempre preciso conhecer antes de julgar, de tomar partido.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA PROFISSÃO


Outro dia conversava com um conhecido quando ele trouxe à tona um tema de que não falava desde as discussões acaloradas com meus colegas de universidade – os que seguiam o ramo de inspeção de alimentos ou de grandes animais (bovinos, ovinos, eqüinos etc).
Este conhecido, assim como os citados colegas da época da universidade, me perguntava se eu não ficava me sentindo inútil por cuidar dos “cachorrinhos de madame”.
- Quero dizer, há profissões muito importantes, importantes de verdade. Ora, você tem que reconhecer que cuidar de “cachorrinhos de madame” não é uma profissão essencial... – disse, em tom irônico.
Na hora fiquei irritado. Quer dizer, fiquei furioso mesmo! Como alguém pode dizer algo assim? Como alguém pode ter a pretensão de querer saber o que é mais ou menos importante? E os cães que são usados pelos policiais, bombeiros e guardas municipais, para ajudar a manter a ordem, procurar drogas nos aeroportos, achar coisas e pessoas desaparecidas? E os guias de cegos, que são um instrumento de suma importância para os portadores dessa deficiência? E os cães de guarda, que dão suas vidas para salvar os donos, atracando-se com bandidos? Muitas pessoas vivem sozinhas em casas em locais muito perigosos (fato comum no Rio de Janeiro), e têm como última barreira de segurança o cão, que afugenta os larápios.
E, por que não, discorri também sobre a importância dos cães, gatos, pássaros e afins que têm como única função a de ser uma companhia para seus donos. Será que não tem a mínima importância um animal desses? Será que uma pessoa sozinha (solteiros, viúvos, idosos, ou quem quer que seja), chegar em casa e ser recebido pelo seu animal de estimação, aliviando as tensões da solidão e o estresse do dia a dia, não é importante? Será que o carinho, o amor nascido entre homem e animal, não é importante? E o que dizer das crianças, que desde cedo podem desenvolver a noção de respeito e amor pelos animais, além de aprenderem a ter responsabilidades (levar para passear, cuidar da data das vacinas, levar ao veterinário quando estiverem doentes...)?
Se um animal de estimação, de companhia, um “cachorrinho de madame” não tem importância nenhuma, então um amigo, um colega de trabalho, também não tem. Ora, qual é a função do amigo, se não fazer companhia, conversar, aliviar as tensões e dividir os problemas?
Mas, de repente, me dei conta de que estava perdendo meu tempo, assim como perdia quando usava esses mesmos argumentos contra aqueles colegas lá da universidade. Dei-me conta de que isso é tão óbvio, tão evidente, que só uma pessoa de pensamento curto pode ter esse tipo de opinião. E então, coloquei em prática uma das máximas que norteiam minha vida. “Jamais discuta com ignorantes”.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

BERNE vs BICHEIRA

mosca da bicheira Mosca da berne


Quem tem cães e mora em casa, provavelmente já passou por esse problema. Quem jamais passou, certamente já ouviu falar em berne e bicheira. Mas o que são esses problemas. E serão eles distintos ou sinônimos para uma mesma coisa?
Em primeiro lugar, a berne e a bicheira são, sim, coisas distintas, apesar de similares sob alguns aspectos.
Ambas são larvas que parasitam os animais. Têm o formato e o aspecto semelhante – embora a berne seja bem maior do que a larva da bicheira – também conhecida como miíase. As duas são transmitidas por moscas de coloração metálica – muitas vezes chamadas de varejeiras. E, para piorar, as duas larvas podem ser transmitidas para o ser humano. Mas então é ou não é a mesma coisa?
Vamos às diferenças básicas: a mosca da berne (Dermatobia hominis) é de uma espécie diferente da mosca da bicheira (Cochliomyia hominivorax). No caso da berne, a mosca captura outros insetos (como moscas domésticas, por exemplo) e deposita seus ovos sobre elas, utilizando-as como “transporte”. Ela pode, ainda, depositar seus ovos sobre plantas. Os ovos, ao entrarem em contato com a pele íntegra, ali se aderem, até que as pequenas larvas eclodem, penetrando na pele. Então, as larvas começam a se alimentar de tecido vivo, mas sem penetrar na musculatura, ficando apenas sob a pele. E cada larva de berne fica em seu próprio espaço. Ou seja, em cada orifício existe apenas uma larva.
No caso da bicheira, a mosca deposita seus ovos diretamente sobre o hospedeiro, mas não na pele íntegra. Ela é atraída por feridas abertas, e só ali deposita seus ovos. Muitos ovos. As larvas eclodem e rapidamente se instalam na ferida, começando a se alimentar do tecido vivo, devorando pele, músculo, tendões, o que houver pela frente, até sobrar apenas osso. Não há limite para a penetração das larvas da miíase. Um animal ou pessoa que não se tratar pode morrer pela boca voraz das larvas. Em cada orifício de penetração da bicheira (que muitas vezes não são simples orifícios, mas verdadeiros buracos) pode haver várias larvas.
O tratamento para as duas é similar, pois consiste na retirada das larvas e - principalmente no caso das bicheiras – no tratamento subseqüente das feridas que ficam no animal. Há, atualmente, medicamentos que auxiliam no tratamento, matando as larvas de dentro para fora, facilitando a retirada das mesmas e evitando que uma ou outra não seja visualizada, e permaneça devorando seu animal.
A retirada das larvas deve ser feita APENAS por médicos veterinários ou enfermeiros experientes. Isso porque, no caso da berne, a larva secreta uma substância que evita infecções. Mas, se na hora da retirada a larva se partir, não sair completamente, deixar pedaços dentro da pele, haverá uma infecção séria, e tratamento será muito mais difícil. No caso das bicheiras, além de ser um processo doloroso para o animal, muitas vezes há estruturas importantes sendo devoradas, como vasos calibrosos, feixes de músculos ou ligamentos. Se a pessoa não souber exatamente o que está fazendo, pode puxar por engano alguma dessas estruturas, e machucar gravemente o animal.
No caso de suspeita de uma dessas doenças, leve seu amigo imediatamente a seu médico veterinário de confiança. Não perca tempo, porque o tempo, nesse caso, é seu inimigo.